Eu, Moi-Même e Euzinha três a dançar o tango

Sentadas no canapé, logo a seguir ao almoço digo a Moi-Même que a casa de banho está para limpar. Ela olha para mim com cara de "mete-nojo" e mantêm-se deitada, sem contudo me fazer crer que dali não tiro nabos da púcara nem limpeza da casa de banho. Olho para Euzinha, a brasileira à experiência (uma vez que Moi-Même não tarda muito vai ser recambiada para a sanzala de onde veio, em virtude de ser uma calaceira para o serviço), que é dócil, trabalhadora, sensível às limpezas, uma verdadeira fada do lar. Ela olha para Moi-Même e abana a saia rodada como se fosse desfilar na escola de samba do Tipué, no carnaval e desata logo a limpar o pó e a varrer o terreiro.

Eu, madame que nada faz por ter, agora, Euzinha, digo-lhe para fazer o que ainda não foi feito, a modos que Pedro Abrunhosa, ementes eu descansava este corpo Danone e massagava o ventre cheio de uma bela duma caldeirada feita por Moi-Même, vá lá, pelo menos ainda faz umas comidas deliciosas.
Olho para o alto do terreno e vejo aquela peste de Moi-Même a plantar umas alfaces que eu havia comprado. Imaginei logo que a confusão entre elas (Moi-Même e Euzinha), pois sei que quando ela mexe na terra suja sapatos, roupa sem falar nas unhas dos pés e mãos, cabelo, pois que dá-lhe sempre a comichão no alto da cachimónia quando tem as mãos sujas.
Imaginei de seguida a casa de banho limpa a brilhar que dá para se ver ao espelho no chão de azulejos, quando a louca de Moi-Même entrar com terra enfiada nos regos dos sapatos de sola de pneu.
Não tardou muito, assim que entra na casa de banho limpa e deixa terra por todo o sítio, oiço Euzinha a maldizer a hora, o minuto e o segundo em que esteve de rabo para o ar assim a modos que alemão em tempo de guerra a limpar, a escafiar a casa de banho.
Eu nem sabia se brigava com Moi-Même se elogiava Euzinha.

Fotografia: Praia do Almirante Reis, no centro do Funchal

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