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No dia do pai lembro-me da minha mãe

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Nunca chamei pai a ninguém. Não vivi com o meu pai, mas nunca me faltou a figura paterna. Sou a mais nova de cinco filhos. A minha mãe tomou o controle da casa quando o meu pai emigrou. Passou dez longos anos longe de casa, regressou mais pobre do que quando emigrou e com umas ideias que não agradavam à minha mãe; uma delas era violência doméstica. Eu nasci passados uns meses da separação dos meus pais. Conseguem imaginar as dificuldades pelas quais a minha mãe passou por se ter separado do marido, mesmo sendo ele um agressor? Há mais de sessenta anos nenhuma mulher dava este passo. A minha mãe deu, pois não dependia do marido para sobreviver. Tornou-se numa mulher dura. Não manifestava os seus sentimentos. Tinha de trabalhar para sustentar os filhos. E eu crescia sem um pai. Mas cresci. E hoje devo tudo à minha mãe e à minha tia-velha - pois que cuidou dos sobrinhos como se fossem seus filhos para que a minha mãe trabalhasse. Pai? Não precisei de um, tive muitos. Super-proteg

Vá lá, perguntem-me por que estou tão feliz

Eu respondo a dar saltinhos de contente e a bater palmas que nem bebé quando vê um frasco de Nutella. Que felicidade em mim parece que o coração quer sair do peito e gritar: "finalmente!" O ferro de engomar avariou-se. Aleluia. Agora tenho desculpa. A resposta vai ser: "querido, amor de mi bida, por supuesto, no hay fierro, tienes de esperar que se lo compre, si carinho mio? Alegria! Finalmente, um descanso. Olarilha!

Ai, povo enganado! "Vaiam" mas é vestir a gabardina e calçar as botas d' água!

Julgavam vocês que o sol vinha para ficar? Julgavam que iam colocar a bela da tamanca no pé e caminhar porta fora até à babuginha do calhau e espalhar-se ao comprido num metro quadrado de cimento, ai era? Desenganem-se meus e minhas, hoje aqui chove facas e canivetes do céu e o Pedrocas anda a fazer churrasco e a deitar o fumo cá para baixo. E que belo churrasco! A julgar pelo fumo a lenha estava molhada. Pudera, se chove e volta a chover... Mas adiante. Atão, as minhas lindas mulheres cá do burgo até arranjaram as unhinhas dos pés para poder arejar os dedinhos? Vão mazé ao baú buscar o sobretudo, as luvas, cachecol e as meias tricotada pelas mãos da avó que isto ainda vem muito frio. Sabem o adágio popular: "Abril águas mil" que em madeirense se diz: " abrilhe águas milhe ?" A água ainda vai cair antes do fim deste mês, palavra de quem nunca mente. Ui, que frio aqui, no meu rural, deixa-me fazer um chá de limão com sumo, deitar mel de cana e um cálice de aguar

Versão moderna do Capuchinho Vermelho

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  Vai uma rapariga de cesta metida no braço qual Capuchinho Vermelho pela estrada fora, olha para a melhor e mais bonita couve do poio: fechada, em forma de coração de boi, de um verde que satisfaz, apanha-a e assim que a vira descobre que alguém chegou antes dela - da rapariga de cesto no braço que alegremente cantava. Mas que coisa é esta! (desculpem, eu não disse "coisa", mas imaginam o que eu disse, não, ou tenho de dizer tudo?). Um lagarto. Um lagarto estuporado comera toda a parte que estava junto à terra, numa de me enganar. Ai se eu te pego...ai ai se eu te pego, lagarto, deito-te as mãos ao pescoço, aperto-o, morres esganado com falta de ar e de papo cheio, mas nunca mais na vida comes as minhas couves. "Aquilho" (como se diz por aqui) é que foi um verdadeiro repasto. Comeu até ao olho. Seria só um? Se foi já anda há muito tempo. E eu à espera que a bendita da couve crescesse! Crescia de um lado diminuía do outro. Deve ter sido uma família de famintos

Pensionista e penso muito

-Avóóóóó  (e este óó parece que não tem fim) , pensionista quer dizer que a pessoa pensa muito, não é ? - pergunta o mê Gugu, de sete anos, ao ouvir falar sobre os pensionistas. Podia eu dizer que os pensionistas são os escolhidos, que são como um saco onde o governo vai roubar, perdão, retirar dinheiro sempre que precisa. E que sim, que quando se recebe a pensão pensa-se nos descontos feitos e até demasiado quando se vê os euros a escorrer por entre os dedos.

Cuidado, eu sou uma mulher que mata

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 O meu vizinho deve pensar que eu sou assim, a modos que tontinha quando ouve-me dar palmas sem haver festa. E sem estar o Quim Barreiros a tocar. Sim, que aqui quando há festa os pimbas vêm todos que até ficam roucos de tanto cantar. Mas, voltemos...Por aqui, no meu rural, há uma epidemia de mosquitos, não há casa que se gabe de não ter pelo menos um. Eu, que nem sempre tenho o Dum Dum (passe a publicidade e não recebo nada por dizer isto), à mão e, como tenho as mãos à mão, bato palmas numa de acertar no demo do mosquito, e posso até me gabar que sou certeira, devia receber um louvor ou uma menção honrosa. Adiante, ainda há pouco um desses atormentava-me. Batia palmas e não acertava e o estapor fugia, quiçá conhece os meus tiques e truques. Tive de me valer do insecticida. Dei tanto que até não preciso de colocar perfume em mim. E, certamente, hoje, não há mosca que resista ao meu charme. Morre logo. Mas o pobre mosquito de perna longa e peito cheio jaz aqui ao meu lado e eu