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Anda ver o mar e esfoliar as costas e os calcanhares nas pedras

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Ohhhhhh , é de areia preta! Devem estar a dizer baixinho com ar de decepção! Pois é, não estamos nas Caraibas! Atão não sabem que a nossa pedra é basáltica? Nunca poderia dar areia amarela. Mas é linda! Ohhhhhhh , mas tem pedras! Ah, pois tem. Atão não gostam de esfoliar os calcanhares e o corpo? Não pagam por uma sessão de massagens com pedras quentes nas costas? Aqui é de borla! Vamilhá correr na praia...Se conseguirem! Fotografia: Praia Formosa, Funchal, Madeira

Começo a ficar farta

Ando aqui numa de: vai-à-rua-entra-pa-dentro-olha-o-norte-olha-o-sul, numa de vigiar o tempo. É que ontem deixei a roupa no estendal da rua a secar ementes almocei. Já estava enxombrada (como dizia a tia-velha), quer dizer: meia seca, e assim que cheguei vou vigiar e, estava novamente molhada (irra espirra) . Tirei da rua, coloquei no estendal interior e pela manhã olhei o céu, não vá o Pedrocas mandar baldes d´'água e eu estar desprevenida, mas começo a fartar de andar a vigiá-lo. Ainda há pouco, cabeça espetada pó ar, nuvens carregadas lá pó norte, o sol brilha cá em baixo. Será que...? Ou será que não... ? É melhor não me fiar no tempo. Vou mazé voltar a por a roupa cá dentro. Ai vida esta de mulher a dias! E Moi-Même (a rais-parta da empregada ucraniana achou de ir de férias!) que não aparece há tanto tempo! É que eu e Moi-Même sempre eram duas a vigiar: uma vigiava o norte outra vigiava o sul. É que a minha cabeça parece um cata-vento. E, também começo a ficar farta dela!

No dia do pai lembro-me da minha mãe

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Nunca chamei pai a ninguém. Não vivi com o meu pai, mas nunca me faltou a figura paterna. Sou a mais nova de cinco filhos. A minha mãe tomou o controle da casa quando o meu pai emigrou. Passou dez longos anos longe de casa, regressou mais pobre do que quando emigrou e com umas ideias que não agradavam à minha mãe; uma delas era violência doméstica. Eu nasci passados uns meses da separação dos meus pais. Conseguem imaginar as dificuldades pelas quais a minha mãe passou por se ter separado do marido, mesmo sendo ele um agressor? Há mais de sessenta anos nenhuma mulher dava este passo. A minha mãe deu, pois não dependia do marido para sobreviver. Tornou-se numa mulher dura. Não manifestava os seus sentimentos. Tinha de trabalhar para sustentar os filhos. E eu crescia sem um pai. Mas cresci. E hoje devo tudo à minha mãe e à minha tia-velha - pois que cuidou dos sobrinhos como se fossem seus filhos para que a minha mãe trabalhasse. Pai? Não precisei de um, tive muitos. Super-proteg

Vá lá, perguntem-me por que estou tão feliz

Eu respondo a dar saltinhos de contente e a bater palmas que nem bebé quando vê um frasco de Nutella. Que felicidade em mim parece que o coração quer sair do peito e gritar: "finalmente!" O ferro de engomar avariou-se. Aleluia. Agora tenho desculpa. A resposta vai ser: "querido, amor de mi bida, por supuesto, no hay fierro, tienes de esperar que se lo compre, si carinho mio? Alegria! Finalmente, um descanso. Olarilha!

Ai, povo enganado! "Vaiam" mas é vestir a gabardina e calçar as botas d' água!

Julgavam vocês que o sol vinha para ficar? Julgavam que iam colocar a bela da tamanca no pé e caminhar porta fora até à babuginha do calhau e espalhar-se ao comprido num metro quadrado de cimento, ai era? Desenganem-se meus e minhas, hoje aqui chove facas e canivetes do céu e o Pedrocas anda a fazer churrasco e a deitar o fumo cá para baixo. E que belo churrasco! A julgar pelo fumo a lenha estava molhada. Pudera, se chove e volta a chover... Mas adiante. Atão, as minhas lindas mulheres cá do burgo até arranjaram as unhinhas dos pés para poder arejar os dedinhos? Vão mazé ao baú buscar o sobretudo, as luvas, cachecol e as meias tricotada pelas mãos da avó que isto ainda vem muito frio. Sabem o adágio popular: "Abril águas mil" que em madeirense se diz: " abrilhe águas milhe ?" A água ainda vai cair antes do fim deste mês, palavra de quem nunca mente. Ui, que frio aqui, no meu rural, deixa-me fazer um chá de limão com sumo, deitar mel de cana e um cálice de aguar

Versão moderna do Capuchinho Vermelho

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  Vai uma rapariga de cesta metida no braço qual Capuchinho Vermelho pela estrada fora, olha para a melhor e mais bonita couve do poio: fechada, em forma de coração de boi, de um verde que satisfaz, apanha-a e assim que a vira descobre que alguém chegou antes dela - da rapariga de cesto no braço que alegremente cantava. Mas que coisa é esta! (desculpem, eu não disse "coisa", mas imaginam o que eu disse, não, ou tenho de dizer tudo?). Um lagarto. Um lagarto estuporado comera toda a parte que estava junto à terra, numa de me enganar. Ai se eu te pego...ai ai se eu te pego, lagarto, deito-te as mãos ao pescoço, aperto-o, morres esganado com falta de ar e de papo cheio, mas nunca mais na vida comes as minhas couves. "Aquilho" (como se diz por aqui) é que foi um verdadeiro repasto. Comeu até ao olho. Seria só um? Se foi já anda há muito tempo. E eu à espera que a bendita da couve crescesse! Crescia de um lado diminuía do outro. Deve ter sido uma família de famintos