Na idade das perguntas

A minha tia-velha está nesta etapa da vida: "A idade das perguntas". Que dia é hoje e tenta adivinhar (mas nunca acerta, claro)
Ela vê-me aqui no computador (todos os dias). Embora ela saiba que eu estou reformada, pergunta-me se "amanha" vou para escola.
Digo que não que já estou reformada, mas não vale a pena; esquece-se e, repete vezes sem conta, a mesma pergunta.
- É um trabalho para a escola? - Disse lhe que sim (não vale a pena explicar o funcionamento e utilidade de um computador).
- Tens sempre muito trabalho. Todos os dias.
(Mas hoje está terrivelmente esquecida. Já não há quem a ature. Só pede para ir para casa). Perguntas do dia:
Onde está a chave... a roupa...o porta moedas...a carteira...quem a vai levar a casa...é hoje que eu vou...
Hoje é a minha sombra!
Mas noto-a deprimida também!
Toneladas de paciência precisam-se.
E de medicamentos para avivar a memória.

Comentários

  1. Minha querida.
    Não sei se já comentei por estes lados o que se passou comigo e com a minha mãe.
    Eu tinha a minha mãe na Madeira e, certa ocasião lembei-me que era tempo de eu também dar folga aos meus irmãos, para tal fui buscá-la à Madeira. Estive com ela durante um ano, mas tive que a levar ás orígens. Ela sofria de Alzeimer,saía de casa e, a maior das vezes nem a mim me conhecia. O meu maior medo é que eu vivia junto a um pinhal e a uma ribeira. Poucos a conheciam e, como ela praticamente não se expressava de modo a ser compreendida recei o pior . Infelizmente nunca sabemos para que estamos reservados. Eu só te peço paciência, pois hoje sou eu, amanhã és tu.
    Recebe um beijo de compreenção João.

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  2. Tomara que esses medicamentos fizessem efeito mas...não ou quase não... e de facto tens que ter paciência porque é "uma ausência no presente com retorno ao passado".

    Força!

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  3. Joao e fatyly
    tem sido complicado. e acredito que outros já passaram por esta mesma situação .Mas às vezes de tanto responder às mesmas perguntas dou-lhe um raspanete. depois arrependo-me. fatyly
    doses de esperança tb se precisam.

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  4. Querida Avogi
    Como eu a entendo, quantas vezes, não preciso dessa dose reforçada de paciência, e não é só com os velhos , ter um filho Asperger, a dose é quase a mesma, repetir, repetir, e á dias em que humanamente também precisamos de recargar essas forças...
    No caso dele a repetição não tem a ver com a memória perdida, talvez seja o contrário é o excesso dela, que não deixa de repetir sempre as mesmas coisas...E que muitas vezes nem ouvem nada do que nós dizemos, que os pensamentos estão muitas vezes em outras frequências, nos velhostes é no passado...
    bjocas

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