E eu digo: já não há homens como os de antigamente
Sou surda, sim senhora, é um facto e já toda a gente sabe e depois este estatuto deixa-me constrangida e inferior aos demais mortais, por uma simples razão quero ouvir tudo e não posso! Quero ouvir o que de mim dizem; quero ouvir os meus pensamentos; quero ouvir...tudo, e os ouvidos não deixam. Ainda há pouco, a Pulga - a maiveilha, estava sentada no trono, a destronar e, por mais que me chamasse eu não ouvia. E chamava.. e chamava...e eu aqui, sem saber de nada. E o cocó esfriava e o rabinho da rapariga desesperava. Até que, mê senhor que ouve bem, bem de mais, aliás, ouve o que quer e o que não quer, tem dias... é que levantou aquele corpo já cansado de tanto vai-e-vem para me dizer que a rapariga estava a chamar para lhe limpar o sítio. E eu pergunto: ó senhor, mê senhor, em vez de me chamar (para fazer isso), porque não agarrou num metro e meio de papel higiénico e fez o serviço? Tinha de ser eu? Por isso a minha reflexão: Já não há homens como os de antigamente. E ainda bem!