Cancro ou salvo-seja

A minha mãe, que Deus a tenha no seu eterno descanso, dizia que, quanto mais se dizia a palavra "cancro" mais aumentava. Creio que ela tinha razão. Da sua boca nunca ouvi a palavra, sempre, em sua substituição, dizia quando falava de alguém que fulana tal tinha um " salvo-seja". Infelizmente, minha mãe morreu com "um salvo seja". O meu tio, a minha irmã, cunhado, sobrinho...sem falar dos amigos que já partiram.
Novamente "o salvo seja" voltou à minha família. E, hoje, dei a pensar que a minha mãe tinha razão. Banalizou-se a palavra. Usa-se, até, na brincadeira. E ele propaga-se e avança sem dó.

Comentários

  1. Perdi o meu avó há meses com "o salvo seja" é uma dor tão grande

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  2. Lamento imenso. Também, infelizmente, está na minha familia. E de momento a quimio está suspensa por falta de medicamento...

    Força.

    Sandra /Funchal

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  3. Fizeste-me arrepiar. Nós ouvimos e vemos cada uma. Nunca se sabe, Ninguém está livre.

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  4. Na minha família também tive alguns casos. Maldita doença. Muita força!
    Beijinhos*

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  5. As palavras são apenas isso: palavras. Os eufemismos só servem para dissimular a realidade e, digam o que disserem, eu prefiro chamar os bois pelos nomes. Às vezes brinco e digo que tive uma "doençazinha prolongada". Às vezes brinco e faço das piadas sobre o cancro (o meu) o escape, a válvula de descompressão. Não quer dizer que não trate a doença com o devido respeito. O mesmo respeito do filho que trata o pai por tu. As minhas piadas, como já o disse muitas vezes, são como que um assobiar ao medo. Ao medo, não ao receio, porque eu cá não tenho disso. O receio está para o medo, como o "salvo-seja" para o cancro: é um eufemismo. O que eu tenho é mesmo medo. Tenho medo de morrer, tenho medo de voltar a sofrer... O receio é para os fraquinhos que têm medo de mostrar que têm medo. Eu tenho medo é do cancro, não tenho medo do medo. E não creio que tenha sido por eu brincar com as palavras duras, que o cancro voltou a visitar a minha casa. Voltou porque se calhar estava destinado que assim fosse. E agora até tenho mais um motivo para brincar: se havia de estragar duas casas, estragou só uma. Agora já não me sinto tão só, porque somos dois a ter medo. E não nos podemos rir um do outro. ahahah

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    Respostas
    1. Este comentário, para além de merecer o meu maior respeito, é digno de um "post" diz tudo o que penso sobre o cancro, porque eu também não sou nada dada a eufemismos. O medo faz com que nos escondamos atrás das palavras, medo sobretudo de uma sociedade que por vezes é tão solidária e por outras vezes é tão sarcástica...tal como...cancro no pulmão - quem te mandou fumar? Cirrose...quem te mandou beber? quando o cancro por vezes e ou na sua maioria atinge os opostos.

      JS força e que tudo corra pelo melhor!

      Avogi para ti amiga tudo de bom

      Beijos.

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    2. Fatyly, há uma mais cruel do que o "quem te mandou fumar?". É aquele "amigo" que nos anima com uma palmadinha nas costas e diz:
      - Tem calma, pá, todos morremos um dia.
      É verdade, mas quanto mais tarde, melhor. E de preferência de morte rápida. :/

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  6. Das doenças que mais me arrepia e que já me levou algumas pessoas.... Parece uma praga. :(

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  7. Minha avó morreu por causa desta doença ... Que infelizmente cada vez mais leva-nos mais pessoas queridas :/

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  8. é uma coisa que me assusta pois os médicos falam bastante nisso hoje em dia, dizem que há que fazer a prevenção mas se nós não sabemos o que o provoca como saber o que fazer para o evitar???

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  9. Cá está uma que lutou com esse bicho .
    Medo, claro que todos temos, mas devemos enfrentá-lo e dar-lhe luta.

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