Salta-me a brotoeja quando estou ao pé de alguém que só fala em doenças. Das suas. É que, por mais que tente não pensar, começo eu a sofrer as dores alheias. Doi aqui doi ali. É mais forte que esta mania de sentir o que os outros sentem. Tinha uma colega que, ao cruzarmo-nos pela manhã no recinto escolar e, como educada que sou, cumprimentava-a, perguntando se estava melhor pois que, no dia anterior havia-se queixado de dores na garganta. Estou melhor da garganta, dizia ela, mas agora tenho uma dor no ombro. No dia seguinte já tinha ido ao massagista por causa da dor mas ia ao estomatologista por que doia-lhe o estômago a acrescentar à dor de garganta. Poça, irritava-me, solenemente, esta atitude, e todos os dias tinha uma dor diferente no corpo. Não me peguntem se continua viva e a proceder desta forma, só sei que desde o momento em que percebi que era hipocondríaca, somente lhe desejava os bons dias matinais e a boa tarde ao sair da escola, pois, onde estava ela não estava eu.